A CIRCUNCISÃO DE JESUS E O SACRAMENTO DO BATISMO
Consummati sunt dies octo, ut circuncideretur Puer —
“Foram cumpridos os oito dias para ser circuncidado o Menino” (Luc. 2, 21).
A
cerimônia da circuncisão era figura do sacramento do batismo. Podemos, por
tanto, imaginar que Jesus Cristo, quando foi circuncidado, pensou em cada um de
nós, e que oferecendo a seu divino Pai as primícias do seu sangue, desde então
nos mereceu a graça de sermos regenerados pelo batismo. Oh, que dom inestimável
é o do santo batismo! Como, porém, temos respondido a tamanho favor? Temos, por
ventura, manchado a vestimenta branca da inocência?
I. Considera o Pai Eterno, que, tendo enviado seu
Filho a fim de padecer e de morrer por nós, quer que no dia de hoje seja
circuncidado e comece a derramar o seu sangue divino, para depois acabar de
derramá-lo no dia da sua morte na cruz num, oceano de dores e desprezos. E
porque? A fim de que esse Filho inocente pague assim as penas por nós
merecidas. É, pois, com razão que a Igreja canta: Ó bondade admirável da
misericórdia divina para conosco! Ó inestimável amor de compaixão! A fim de
remires o homem entregaste teu Filho à morte! — Ó Deus eterno, quem seria capaz
de fazer-nos esse dom infinito, senão Vós que sois a bondade infinita? E se,
com o dom do vosso Filho, me destes o que mais caro possuíeis, justo é que eu
miserável me dê todo a Vós.Considera por outro lado o divino Filho, que, todo
humilde e cheio de amor para conosco, abraça a morte amargosa, que lhe está
destinada, para nos salvar, a nós pecadores, da morte eterna. De boa vontade
começa hoje a satisfazer por nós à divina justiça, com o preço do seu sangue. —
Nosso Senhor disse: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a própria
vida por seus amigos.” (1) O amor, porém, de Jesus Menino foi muito além,
porquanto, assim como diz São Paulo, Ele chegou a sacrificar a vida por nós,
seus inimigos: Cum inimici essemus, reconciliati sumus Deo per
mortem Filii eius (2) — “Sendo inimigos de Deus, fomos com
Ele reconciliados pela morte de seu Filho”.
Portanto, ó meu Jesus, é por meu amor que
aceitastes a morte; e que farei eu? Continuarei porventura a ofender-Vos com os
meus pecados? Não, Redentor meu, não mais quero ser-Vos ingrato; hoje quero com
todas as veras começar a amar-Vos de todo o meu coração. Vós, porém, ó Deus
todo-poderoso, concedei-me a graça para Vos ser fiel. “E já que me fizestes
chegar ao começo deste ano, salvai-me pelo vosso poder, a fim de que no correr
do mesmo não caia eu em nenhuma falta, e os meus pensamentos, palavras e obras
tenham por único escopo fazer aquilo que com toda a justiça exigirdes de mim.” (3)
II. A cerimônia da circuncisão, no dizer dos Santos
Padres, prefigurava o sacramento do batismo. É portanto bem a propósito
considerarmos que Jesus Menino, quando se sujeitou à circuncisão, pensava em
cada um de nós. Oferecendo então a Deus Pai as primícias do seu sangue, começou
a merecer-nos a graça de sermos regenerados na fonte batismal. Oh, que dom
inapreciável é o do santo batismo! Por meio d’Ele as nossas almas deixaram de
ser escravas do demônio, condenadas ao inferno, e se tornaram filhas escolhidas
de Deus e herdeiras ditosas do reino dos céus. — Mas, como é que nós temos
respondido a tão grande favor?… Lancemos a vista sobre a nossa consciência e
vejamos se jamais temos manchado a vestimenta branca da inocência, e
prostrando-nos aos pés de Jesus Cristo renovemos os nossos votos do batismo.
Para que depois os guardemos fielmente, consideremos cada dia que desponta,
como se fosse o último da nossa vida. E, com efeito, meu irmão, quem sabe se
ainda vereis o fim do ano que hoje começa?
Senhor meu amabilíssimo, prostrado na presença de
vossa divina Majestade, agradeço-Vos o me haverdes adotado por filho no santo
batismo. Quero hoje renovar (as promessas que Vos fiz naquele dia, e Vô-las
ofereço tintas no sangue que Jesus por meu amor derramou na sua dolorosa
circuncisão. Em nome da Santíssima Trindade, Padre, Filho e Espirito Santo,
protesto que de todo o coração renuncio a Satanás, às suas pompas e às suas
obras. Pesa-me de haver tantas vezes profanado pelos meus pecados o caracter de
cristão, e juro que para o futuro Vos quero permanecer fiel. Ó anjos do
paraíso, e em particular vós, ó meu anjo da guarda, que um dia anotastes as
minhas promessas, sêde hoje novamente testemunhas desta minha resolução. Antes
quero morrer do que faltar à promessa do meu batismo, e viver um instante na
inimizade de Deus. Vós, ó meu Jesus, dai-me a santa perseverança; fazei-o pela
intercessão do Santo cujo nome tomei na pia batismal; fazei-o pelo amor de São
José e de Maria Santíssima, que no dia da vossa circuncisão ficaram tão aflitos
vendo-Vos derramar pela primeira vez o vosso preciosíssimo sangue. (*II 386.)
1.Io.15,13.
2.Rom.5,10.
3. Or. Eccl.
2.Rom.5,10.
3. Or. Eccl.
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I – Sto. Afonso
Nenhum comentário:
Postar um comentário